Os experts da tecnologia afastam os seus filhos do uso de smartphones e tablets. Por estarem tão perto desta indústria, eles são mais cautelosos. Sabem como os aparelhos funcionam e decidiram mantê-los longe dos seus filhos. Por isso, o consenso em causa está relacionado com o uso exagerado destes aparelhos, principalmente como ferramenta de aprendizagem.
O precoce uso de smartphones e tablets está relacionado com deficits cognitivos e físicos, bem como ansiedade e depressão.
Apesar de os aparelhos serem cada vez mais usados como ferramentas de aprendizagem, seja nas escolas, seja em casa, existe um enorme risco de criar vício e atrasar o desenvolvimento das crianças, ao contrário do que se julga. Além disso, o seu uso interfere no sono, assim como está associado a deficits motores e cognitivos, juntamente com obesidade, depressão e ansiedade.
O debate em Silicon Valley é sobre até que ponto a exposição às telas é realmente positiva.
Kristin Stecher, especialista em computação social, casada com Rushabh Doshi, um engenheiro do Facebook, afirma que “tirar totalmente o tempo de exposição às telas é mais fácil do que deixar apenas um pouco. Quando os meus filhos têm um pouco, eles só querem mais.”
Stecher e Doshi chegaram à conclusão de não querer mais este tipo de aparelhos em casa, depois de terem pesquisado sobre o efeito das telas. As suas filhas, de 5 e 3 anos, não têm horários determinados para fazerem uso de smartphones e tablets. Só os podem usar durante longas viagens de carro ou de avião.
Hunter Walk, investidor que durante anos foi director de produtos do YouTube, publicou uma foto de um penico com um iPad incorporado, com a hashtag “products we didn’t buy”.
Athena Chavarria, que trabalha no Facebook, só deixou os seus filhos terem telemóveis no ensino secundário e ainda hoje proíbe o seu uso dentro do carro e impõe limites em casa. Quando lhe perguntam se não fica preocupada quando não sabe onde estão os seus filhos, ela responde que não precisa de saber onde eles estão a cada segundo do dia.
“Numa escala entre doces e crack, estão mais perto do crack”.
Chris Anderson, ex-editor da revista Wired e actual CEO da 3D Robotics, afirma que “numa escala entre doces e crack, [as telas] estão mais perto do crack”. Acrescenta que os tecnólogos que criam estes produtos e os jornalistas que observam a sua evolução são ingénuos. “Pensámos que poderíamos controlá-la, mas isso está além de nosso poder. Vai directamente aos centros de prazer do cérebro em desenvolvimento. Vai além da nossa capacidade de compreensão como pais comuns.”
Ele também impõe certas regras, como bloqueio de conteúdo em rede, nenhum rede social até aos 13 anos, horários de uso de aparelhos geridos pelo Google WiFi, que ele próprio controla através do seu smartphone. Ele afirma que notou os sintomas e as consequências relacionados com o vício.
O facto de os profissionais de Silicon Valley serem cautelosos com o uso de smartphones e tablets não é recente. Os “avós” da tecnologia mostraram essa preocupação já há muitos anos.
O actual CEO da Apple, Tim Cook, proibiu o seu sobrinho de entrar nas redes sociais. Bill Gates também proibiu os smartphones até que os seus filhos chegassem à adolescência e Steve Jobs não deixava os iPads perto dos seus filhos pequenos.
No entanto, nos últimos tempos é aumentou a preocupação sobre os efeitos destes aparelhos no cérebro humano. Muitos profissionais de Silicon Valley começaram a usar cada vez menos tecnologia em casa. Além disso, até as amas têm de assinar contratos que proíbem o uso de telemóveis.
Eles explicam como funciona a tecnologia.
John Lilly, investidor da Greylock Partners e ex-CEO da Mozilla, disse que tenta ajudar o seu filho de 13 anos a entender que está a ser manipulado pelos criadores da tecnologia.
“Eu tento dizer que alguém escreveu o código [de programação] para fazê-lo sentir-se de determinada maneira. Tento ajudá-lo a entender como as coisas são feitas e o que as pessoas fazem para criar esses sentimentos.”
Porém, há discordâncias.
Jason Toff, que trabalha na Google, deixa o seu filho de 3 anos brincar com o iPad. Na sua opinião, não é melhor nem pior do que um livro. Essa visão é bastante impopular entre seus colegas de trabalho e agora ele diz sentir um certo estigma. Ele afirma que normalmente as pessoas têm medo do desconhecido. Além disso, lembra-se de ter visto muita televisão na infância, sem quaisquer repercussões.
Também há quem afirme que o tempo limitado para o uso de smartphones e tablets pode ser menos prejudicial. Renee DiResta, pesquisadora de segurança na diretoria do Centro para Tecnologia Humana, permite pequenos períodos de tempo e quer que os seus filhos, de 2 e 4 anos, aprendam a linguagem de programação. No entanto, também impõe limites. Por exemplo, não os deixa verem vídeos no YouTube, a menos que seja em família.